Assassino de mim mesmo
Venho confessar
um crime! Matei uma parte de mim.
Por favor, não
faça essa cara.
Decidi, não
por poucos motivos nem por simples acontecimentos, mas a sua existência já não
cabia em um corpo que necessitava de outro para suporta-lo. Não foi fácil... Não
são todos os dias que decidimos matar uma parte de nós. Ele era agradável,
amoroso, simples, paciente, duro, e muitas vezes irredutível.Intenso nos beijos,
abraços, carinhos, nas atitudes. Firme nas posturas, flexível nas situações.Aparentemente
a parte que alguém nunca deveria esquecer abrir mão ou matar.
A complexidade
deste ser era tão fantástica que ele não existia por existir, precisava de
outra pessoa para que fosse vivo. Ela era o combustível para que ele permanecesse
forte.Um lindo perfeito triste dia seu combustível decidiu ir embora, o
deixando sozinho, a mercê de toda a sorte de pensamentos, sentimentos e
pessoas.É ... Ele não ficou bem.
Você pode se
perguntar: - Porque não esperou ele morrer?
Porque era
forte demais para morrer com facilidade, fora nutrido dia após dia com dozes
generosas da mais potente substância ativa, o amor.
Interessante
não é?
Eu poderia
passar noites ou dias refletindo sobre o motivo desse acontecimento, mas nessa
confissão relato tudo o que aconteceu para você, pois não honesto de minha
parte te contar meias verdades.
Seu assassinato
foi composto por golpes brutais de esquecimento e dor,além de pancadas
violentas de tristeza.Até hoje me lembro da sua cara de dor e de como se
contorcia em meio aos golpes, seu sangue jorrava e respingava minhas roupas, eu
sentia nojo mas ao mesmo tempo a sensação de dever cumprido.Lembro-me de quando
terminei que olhei para seu corpo e lembrava de quando sorria, e do quanto me
fazia bem tê-lo junto comigo.Fechei os olhos e respirei fundo, arrumei o corpo
e o deixei-o.
Parte de mim passou
a ser um cadáver onde o sepulcro encontra-se aberto sem caixão e sem um grama
de areia sobre o corpo.Ele continua a se decompor, fede e não é agradável, mas
este é um processo natural onde a natureza absorve tudo o que pode ser reaproveitado
afim de trazer algum beneficio para o ambiente.Este ambiente (meu coração) está
dia após dia se recuperando desta grande perda.
Confesso! Não me
arrependo de tê-lo matado. Seria mais doloroso manter ele vivo.
Um passo de
cada vez é assim para prosseguir.
Espero que um
dia um novo amor plante no meu coração um novo “Eu” .
Hoje continuo
sendo eu, não um “meio eu” mas um “eu completo”.
Aqui Jaz “Eu”.
Aqui vive “EU”.